“Felicidade no trabalho, a quem cabe?”

Foto divulgação.

Por: Emílio Da Silva Neto

13/11/2019 - 15:11 - Atualizada em: 14/11/2019 - 15:20

Segundo o artigo ‘Funcionários felizes significam empresas saudáveis’ (LSE Business Review, julho de 2019), a correlação entre bem-estar e desempenho de colaboradores se baseia, agora, em dados reais: “investimentos no bem-estar de colaboradores elevam a produtividade e rentabilidade das empresas”. Ou seja, há uma ‘relação causal’ (causa-efeito) entre bem-estar e resultados.

Cita também a Gallup, que desde 1990 coleta em 73 países dados sobre o bem-estar de trabalhadores, correlacionando-os com resultados, via quatro indicadores chave de desempenho: lealdade do cliente, produtividade dos colaboradores, lucro e rotatividade de pessoal.

Assim, um número crescente de empresas atribui alta prioridade ao bem-estar de seus trabalhadores, havendo até um nicho de mercado pujante de negócios que vendem produtos relacionados a isto. Mas, isto funciona?

No mundo atual do trabalho, o bem-estar e em última instância, a felicidade (também definida como “bem-estar pleno”), pode ser influenciada por inúmeros fatores, como: equilíbrio entre vida pessoal e laboral, relações sociais, moral da equipe, recompensas, emoções positivas e estimulantes. Todos estes trazem ganhos até para mais tarde na vida dos trabalhadores.

Contudo, pessoas idênticas em educação, inteligência, saúde física e auto-estima atingem níveis distintos de “felicidade” sob o mesmo ambiente de trabalho. Isto porque “felicidade” é um estado de espírito altamente “customizado” que depende de como é percebida, plantada e cultivada.

Afinal, a felicidade (segundo Aristóteles: “prática e contemplação de virtudes como sabedoria, moderação, coragem e justiça”) é um bem que deve ser buscado por si mesmo e nunca no interesse de uma outra coisa (cargos, status ou dinheiro, por exemplo), além dela, a felicidade. Tê-la, resulta de suportar com dignidade todas as contingências da vida e sempre tirar o maior proveito das circunstâncias.

Enfim, a felicidade no trabalho é “uma porta que só se abre por dentro”. Ela pouco depende das empresas, além da garantia de um ambiente não tóxico.

Assim, “parques de recreação” internos com mesas de ping pong, pistas de skate, jogos recreativos e outros meios considerados positivos para a criatividade podem não ter influência alguma na elevação da felicidade, pois, lembrando o filósofo existencialista dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), “a porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força, em sentido contrário, acaba por fechá-la, ainda mais”.

Enfim, a conquista da felicidade no trabalho deve ser mantida sob “lombo próprio”. Isto é: cabe a cada um “dar um up” em seu próprio astral, nunca devendo transferir responsabilidades para ombros alheios, ainda mais, num mundo onde o hedonismo é epidêmico e, segundo Albert Schweitzer, no Prêmio Nobel de 1945, “o sucesso não é necessário para a felicidade. A felicidade é que é necessária para o sucesso. Se alguém ama o que faz, terá sucesso.”